A sustentabilidade e os critérios ESG (Environmental, Social, and Governance) têm ganhado cada vez mais destaque no cenário global, influenciando decisões de investimento, práticas corporativas e políticas públicas. A evolução histórica desses conceitos reflete uma crescente conscientização sobre a necessidade de equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e a responsabilidade social. Este artigo traça a trajetória histórica da sustentabilidade e do ESG, destacando os marcos importantes que moldaram sua relevância atual.
As Origens da Sustentabilidade
A ideia de sustentabilidade remonta às primeiras preocupações com a exploração desenfreada dos recursos naturais. No século XIX, pensadores como Henry David Thoreau e George Perkins Marsh já alertavam para os impactos negativos da industrialização sobre o meio ambiente. No entanto, foi apenas no século XX que a sustentabilidade começou a ganhar forma como um conceito estruturado.
Um marco importante foi a publicação do relatório “Os Limites do Crescimento” pelo Clube de Roma em 1972, que alertava para os riscos do crescimento econômico contínuo em um planeta com recursos finitos. Esse relatório foi um dos primeiros a chamar a atenção para a necessidade de um desenvolvimento sustentável.
As Raízes do Pensamento Sustentável (1960-1970)
O movimento ambientalista moderno ganhou força na década de 1960, com a publicação de “Primavera Silenciosa” (1962) de Rachel Carson, que alertou sobre os perigos dos pesticidas. Este período testemunhou o surgimento da consciência ambiental pública e os primeiros sinais de que o desenvolvimento econômico precisava considerar limites ecológicos.
Em 1970, ocorreu o primeiro Dia da Terra, mobilizando milhões de pessoas. Dois anos depois, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo (1972) marcou o início do engajamento global em questões ambientais, estabelecendo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O Nascimento do Conceito de Desenvolvimento Sustentável (1980-1990)
A década de 1980 trouxe a formalização do conceito de “desenvolvimento sustentável” através do Relatório Brundtland (1987), intitulado “Nosso Futuro Comum”. Este documento definiu sustentabilidade como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades” – uma definição que permanece fundamental até hoje.
A Rio-92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento) foi um marco decisivo, resultando na Agenda 21, na Convenção sobre Mudanças Climáticas e na Convenção sobre Diversidade Biológica. Este período também viu o surgimento de relatórios de sustentabilidade corporativa, com empresas começando a comunicar seus impactos ambientais.
A Transição para a Responsabilidade Corporativa (1990-2000)
Nos anos 1990, o conceito de “triple bottom line” (pessoas, planeta e lucro) foi introduzido por John Elkington, expandindo a visão de sucesso empresarial para além dos resultados financeiros. Organizações como a Global Reporting Initiative (GRI), fundada em 1997, começaram a padronizar a divulgação de informações de sustentabilidade.
O Pacto Global da ONU, lançado em 2000, convidou empresas a alinharem suas estratégias a princípios universais de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. Esta década consolidou a ideia de que as empresas tinham responsabilidades que iam além do cumprimento legal.
O Surgimento do ESG (2000-2010)
O termo “ESG” foi cunhado oficialmente em 2004, no relatório “Who Cares Wins” do Pacto Global das Nações Unidas. Este documento, desenvolvido em parceria com instituições financeiras, argumentava que a integração de fatores ambientais, sociais e de governança nas análises de investimento resultaria em mercados mais sustentáveis e melhores resultados para a sociedade.
Em 2006, os Princípios para o Investimento Responsável (PRI) da ONU foram lançados, proporcionando um framework para investidores considerarem fatores ESG em suas decisões. Isto marcou a transição da sustentabilidade como um ideal para um conjunto concreto de métricas que poderiam influenciar avaliações financeiras.
A Consolidação do ESG no Mainstream Financeiro (2010-2020)
A década de 2010 testemunhou a aceleração do ESG, impulsionada por:
- O Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas (2015)
- Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (2015)
- O crescimento expressivo de investimentos ESG
- A maior demanda por transparência corporativa
- O ativismo climático liderado por jovens
- A pressão crescente de investidores institucionais
Larry Fink, CEO da BlackRock, em sua carta anual de 2020 afirmou que “a consciência climática está rapidamente mudando” e que “estamos à beira de uma remodelação fundamental das finanças”, sinalizando que o ESG havia se tornado uma preocupação central no maior gestor de ativos do mundo.
O Presente e Futuro: Materialidade e Impacto Real (2020-Presente)
O período atual é marcado pela transição da adoção de ESG como estratégia de mitigação de riscos para uma abordagem de impacto positivo. Questões como:
- Materialidade dupla (impactos financeiros e impactos nas pessoas e planeta)
- Metas baseadas na ciência (Science-Based Targets)
- Economia circular e regenerativa
- Biodiversidade e capital natural
- Justiça climática e transição justa
O ESG enfrenta desafios como padronização de métricas, combate ao greenwashing e mensuração de impacto. A Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD) e, mais recentemente, a International Sustainability Standards Board (ISSB) buscam harmonizar relatórios de sustentabilidade.
Conclusão
A evolução da sustentabilidade para o ESG representa uma transformação no entendimento do papel das empresas na sociedade. O que começou como preocupação ambiental tornou-se um framework abrangente que reconhece as interconexões entre desempenho ambiental, responsabilidade social e boa governança.
O futuro do ESG provavelmente envolverá maior integração com relatórios financeiros, aprimoramento de metodologias de medição e um foco crescente em resultados tangíveis além de processos. À medida que empresas, investidores e reguladores continuam a refinar suas abordagens, o ESG evolui de tendência para um novo paradigma de como os negócios devem operar no século XXI – reconhecendo que prosperidade econômica de longo prazo depende fundamentalmente da saúde dos sistemas naturais e sociais que a sustentam.